quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Resenha: Cidade Fechada, cidade vigiada: A tendência a segurança nos espaços residenciais na França e na América do Norte (1)


Uma tese central que se postula no livro é a questão da presença dos espaços de segurança, como um movimento que não chega a ser recente, mas que aponta para novas tendências. A primeira descreve a presença dos enclaves fortificados nas paisagens intra-urbanas, que apresentam um alto grau de sofisticação da segurança, a segunda tendência se relaciona com a intensificação dos espaços vigiados, através, agora a partir de dispositivos de políticas públicas.
Em suma o que está em voga neste livro é a critica a uma concepção de que o controle do espaço necessariamente implique em um maior sentimento de segurança. Ao concluir que “somos mais seguros que as gerações anteriores, o que muda não é a violência cotidiana, mas a nossa intolerância relativamente crescente a essa situação”, podemos tornar mais enfáticos à visão de Mike Davis que deduz: o que vivemos hoje é uma demanda paranóica por segurança.
Sendo assim os autores apontam “o condomínio fechado não é a única nem a primeira manifestação de segurança”, pelo contrário eles são reflexos de um novo modo de habitar que busca como solução aos problemas de socialização, o sentimento de “estar entre si”, num movimento de separa-se do outro, do alheio, do estranho. A identificação da fragmentação da vida e do tecido urbano leva a considerações importantes sobre a analise desenvolvida e aponta para dois principais fatos, de um lado o crescimento da insegurança real e percebida e dos discursos da insegurança e de outro lado as estratégias desse auto fechamento.
A explicação parcial desse processo normalmente se refere a um suposto estado de "caos" que vive as cidades, mas como aponta os autores isso explica parcialmente esse processo de construção desses espaços fechados. O conceito de “estar entre si” ganha corpo com a intensificação dos discursos de insegurança e se personifica na mera possibilidade de tornar esta vivencia num habitar sem riscos, sendo assim, os autores aponta para uma diferenciação da criminalidade e da insegurança, demonstrando que existe, além disso, um medo do outro.
Relacionada com a necessidade de fechamento e a fabricação da idéia de “estar entre si” resta-nos perguntar quais são esses processos sociais e culturais contemporâneas que essa produção de novas representações da sociedade urbana promove? Verificamos então a necessidade de pensarmos para nossa sociedade essas rupturas a um modelo de cidade promovida por este novo modelo societal, de uma cidade considerada heterogênea, mas ao mesmo tempo polarizada, a uma cidade fragmentada.
Essa fragmentação se identifica mesmo sobre a proposição do New Urbanism, que inicialmente foi concebido como um modelo de planejamento que buscava uma ocupação territorial dos espaços públicos das cidades, principalmente das áreas centrais que disputavam espaços como os enclaves fortificados. Muitas críticas puderam ser apontadas, mas chama a atenção o alerta que os autores apontaram: a banalização dos equipamentos e dispositivos de segurança, devido a uma aceitação social destes. São estes equipamentos de segurança que animam as discussões espaços privados, que promovem a separação entre o público e o privado, que regulamentam os espaços e o uso.
São essas posturas que exigem nossa responsabilidade, já que temos que lembrar que a analise tende a apontar a uma critica a modelos e equipamentos com ampla aceitação social. Inevitavelmente todos estes elementos são reflexos das representações sociais da sociedade urbana, o New Urbanism, as comunidades fechadas, e os novos dispositivos de vigilância eletrônicos são os elementos criticados que se escondem na aparente impressão de segurança e promovem a segregação de grupos, os outros.
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1. Os trechos do livro de Billard, G. & Chevallier, J.A & Madorré, F., “Cidade Fechada, Cidade Vigiada: A tendência à segurança nos espaços residenciais na França e na América do Norte”, foram extraídos da tradução livre (do francês para o português) realizada pela Professora Dra. Maria Encarnação Spósito (Unesp - Presidente Prudente), durante as discussões do grupo de estudo relacionados ao projeto Urbanização Difusa, Espaço Público e Insegurança Urbana, financiado pela FAPESP.

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